Gaviões em revoada partem rumo ao improvável. Num
vôo rasante, encontram em terras de Santana de Parnaíba
o portal de entrada para uma história de coragem, luta,
esperança e fé. Coragem para desbravar e romper
pelas terras de um país recém-descoberto. Luta pela
sobrevivência diante do desconhecido interior do Brasil.
Esperança em um futuro banhado de riqueza escondida mata
adentro. Fé em Santa Ana, inspiradora e homenageada no
nome da cidade de quem hoje fazemos enredo. Uma devoção
nascida do sonho de Suzana Dias, fundadora da cidade ao lado do
filho André Fernandes. Ao ter uma visão da santa,
Suzana pediu que em sua glória fosse erguida uma igreja,
hoje a matriz do município.
Nascida às margens do rio Tietê, conhecido como Anhembi
até o início do século XVIII, a cidade de
Santana de Paranaíba viu partir de suas terras muitas das
expedições de bandeirantes que iriam contribuir
para a expansão do território brasileiro, cortando
as matas rumo ao sertão, ou, em sua forma original, “desertão”.
O termo, que significa “desabitado”, logo foi desmentido
pelas expedições.
No caminho, encontraram várias tribos nativas que ora lhes
ajudavam, ora lhes atacavam. A história registra personagens
importantes do movimento bandeirista, entre eles Bartolomeu Bueno
da Silva, que nasceu em Santana de Parnaíba e seguiu pelo
interior do Brasil, chegando ao sertão de Goiás.
Ali lançou mão de um truque para impressionar os
índios ateando fogo à aguardente como se estivesse
incendiando os rios. Diante dessa visão, os índios
lhe deram o apelido de “Anhangüera”, que quer
dizer “Diabo Velho”.
As viagens seguiam em seu destino incerto. No olhar delirante
dos desbravadores, a mata se transforma em ouro. Frutos e flores,
em pedras preciosas. As águas dos rios, lagos e cachoeiras
que os conduzem Brasil adentro são como tapetes de prata,
que reluzem numa fantástica alucinação, causadas
não apenas pelo cansaço, fome e pelas doenças
contraídas no caminho, mas pelo sonho de riqueza instantânea.
Mesmo em condições adversas, foram estas expedições
as responsáveis pela expansão do território
brasileiro. E de Santana de Parnaíba, muitos desses bravos
aventureiros partiram. Alguns por ali ficaram. Outros poucos retornaram.
Mas, por meio dessas trilhas desafiadoras, construíram
a grandiosa aventura de abrir caminho rumo ao coração
do Brasil.
O tempo passa e as mesmas águas que guiaram os bravos bandeirantes
também conduzem aos caminhos do desenvolvimento. As seqüências
de quedas d’água do rio Tietê fizeram dali
o local propício para a construção da Hidrelétrica
de Parnahyba. Uma das maravilhas do recém-chegado século
XX, a energia elétrica provoca profundas transformações
na cidade e na região.
A Usina foi inaugurada em 1901. Era época da chegada do
Art Nouveau ao Brasil, um estilo artístico inspirado nas
formas orgânicas e na valorização da natureza,
esta mesma provedora do progresso que se acelera nas terras de
Santana. A energia gerada pela hidrelétrica era de tamanha
potência que chegou a ser aproveitada para mover os bondes
da grande São Paulo. Ou seja, a força-motor que
impulsionou a próspera capital paulista veio inicialmente
de Santana de Parnaíba. Sutilezas da história de
um lugar onde as glórias do passado se encontram nas conquistas
do presente.
O samba que hoje embala nossos bandeirantes Gaviões é
o mesmo descrito pelo modernista Mário de Andrade na década
de 30. Ao pesquisar as origens do samba rural paulista, encontrou
não apenas um ritmo, mas uma verdadeira celebração
viva no requebro das ancas das lindas negras e do ritmo forte
marcado pelos bumbos. Uma batucada que nasceu nas fazendas de
café e se disseminou por várias regiões do
estado.
Além do samba, a herança cultural de Santana de
Parnaíba também está presente no seu valioso
conjunto arquitetônico. Um orgulho para a cidade, testemunha
das várias transformações ao longo dos séculos,
que não perde o traço pioneiro do passado, a modernidade
do presente e o arrojo do futuro. A antiga vila nascida da fé
de seus habitantes encontra ainda hoje sua vocação
de portal de um novo mundo ao preparar os viajantes antes de uma
outra longa jornada.
Santana de Parnaíba é o marco zero do Caminho do
Sol (versão brasileira do Caminho de Santiago de Compostela),
de onde partem peregrinos que encontram o prazer de percorrer
um trajeto em direção ao interior de São
Paulo, rumo ao interior de si mesmo. A busca dos bandeirantes
por riquezas encontra um contraponto no caminho desses bandeirantes
da fé, que, despojados materialmente, trazem consigo apenas
as reflexões sobre o real sentido da vida. Uma viagem esotérica
em direção ao próprio conhecimento.
É na alma pioneira e inovadora dos nossos bandeirantes
gaviões que encontramos a força para seguir adiante.
E vamos nós desbravando os próprios limites num
caminho de emoção que percorre a passarela do Anhembi,
este palco onde todos os nossos sonhos se tornam possíveis.
Esta é a nossa fé. Que Santana e São Jorge
nos guiem rumo a um grande carnaval. Avante Gaviões, rumo
ao portal dos sertões!
Mauro Quintaes
Setores do Desfile:
- Abertura: Índios e Bandeirantes: O Encontro de Dois Mundos.
- 2º Setor: O Delírio dos Bandeirantes – Ouro,
prata e pedras preciosas.
- 3º Setor: Hidrelétrica de Parnahyba: A Energia Pioneira.
- 4º Setor – Samba, suor e beleza – Santana de
Parnaíba - Patrimônio Histórico.
- 5º Setor - Alma caminhante dos Bandeirantes da Fé
no Portal dos Sertões.
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