14/02/2007
Bom Dia Brasil compara samba do Rio e de SP
São Paulo, 14 de fevereiro - O telejornal Bom Dia Brasil, da Rede Globo, apresentou nesta quarta, 14 de fevereiro, a reportagem ponmte aérea, apresentada pelo sambista Ivo Meirelles. Veja a seguir a reprodução do texto da reportagem:
Quem são os cariocas que trabalham nos barracões da capital paulista? E os paulistas que ajudam a fazer a festa no Rio: você conhece? Quem embarcou nessa viagem foi um convidado muito especial: o sambista Ivo Meirelles.
Começa hoje mais uma série especial do Bom Dia Brasil sobre o carnaval: o Carnaval Ponte-Aérea. É a união, nos bastidores, entre Rio de Janeiro e São Paulo. Quem são os cariocas que trabalham nos barracões da capital paulista? E os paulistas que ajudam a fazer a festa no Rio: você conhece? Quem embarcou nessa viagem foi um convidado muito especial: o sambista Ivo Meirelles.
"Estou em São Paulo, no bairro de Santo Amaro, no Samba da Vela, para dizer que você vai conhecer muita coisa do carnaval do Rio de Janeiro e de São Paulo. É o Carnaval Ponte-Aérea no Bom Dia Brasil", aponta Ivo Meirelles.
Milton Cunha, carnavalesco da Porto da Pedra (RJ) - São Paulo luta para mostrar, ao lado do seu poder financeiro, o poder da alegria do seu povo. Se no Rio de Janeiro temos as praias, ginga, futebol, esquina, boteco, mulata, morro, favela, lá, eles têm o poderio econômico, as grandes indústrias. Todo o nosso material de tecido vem do parque têxtil de São Paulo: os lameios, os brilhos, os paetês. Se eu estou fazendo carnaval lá, estou do lado das fábricas. Isso me dá uma possibilidade de escolha muito maior.
Ivo Meirelles - Como é a realidade do carnaval de São Paulo? No Rio de Janeiro, as escolas de samba trabalham com cifras de R$ 3 milhões para cima. Há escolas que dizem que já gastaram R$ 6 milhões...
Raul Diniz, carnavalesco da X-9 Paulistana (SP) - A realidade é de R$ 1 milhão.
Por que o patrocínio, as empresas não caem no carnaval de São Paulo como acontece no Rio de Janeiro? O que falta?
Raul Diniz - A diferença é que o paulista curte o carnaval depois do Réveillon. Ele não vive o carnaval o ano todo
Paulo Barros, carnavalesco da Viradouro (RJ) - Essa relação de fantasia entre Rio e São Paulo também é algo em a gente nota diferenças. A partir do momento em que São Paulo ainda faz uso de resplendores, de, cangalhas, de grandes plumagens, de elementos que traduzam o enredo. Já no Rio de Janeiro, a gente se acostumou a usar muito mais figurinos, que traduzem na essência o que o enredo quer passar.
Chiquinho Spinoza, carnavalesco da Vai-Vai (SP) - Uma das diferenças legais entre Rio e São Paulo, em termos de figurino, está na cor das escolas. São Paulo tem essa característica de as escolas terem a cor do seu pavilhão. No Rio, você perdeu um pouco isso nas escolas. Elas são multicoloridas.
Paulo Barros - Outra diferença é a comissão de frente. No Rio, elas são baseadas em uma roupa mais simples. Em São Paulo, ainda se faz uso dos grandes elementos de comissão de frente, como grandes fantasias, plumagens.
Milton Cunha - Outra coisa que difere muito são as condições de barracão. Eu fiz Leandro de Itaquera em 2000 e o barracão era embaixo de um viaduto. Tinha muito lixo, muito rato, era insalubre. As condições eram difíceis de se fazer as alegorias. Hoje, que eu estou na Cidade do Samba, quer dizer, é a pré-história comparada com terceiro milênio.
Carlos dos Santos, aderecista (SP) - São Paulo não tem a Cidade do Samba. Lá, cada um se arranja dentro do seu barracão em situações precárias. No dia do desfile, com certeza, isso compensa na avenida.
Nelsinho Crescibeni, historiador - O Rio de Janeiro, por ser capital da República até o começo dos anos 1960, recebia um apoio muito maior de divulgação. É para lá que estava voltada a atenção do país todo. Então, a imprensa em geral divulgava o que acontecia no grande centro e não divulgava o que acontecia em São Paulo. São Paulo passa a ter uma divulgação maior do espetáculo carnavalesco a partir dos últimos 15 anos.
Evaristo de Carvalho, radialista - Não tínhamos regulamento para julgar as escolas. Por isso, fomos ao Rio de Janeiro e a confederação nos cedeu o regulamento na época, que foi adaptado para São Paulo.
Seu Nenê, da Nenê de Vila Matilde (SP) - Depois da década de 1940, em 1948, nós imitávamos tudo que o Paulo da Portela fazia no teatro. Tocávamos na rua. Escutávamos e cantávamos o samba que ouvíamos no teatro.
Dica, embaixador do samba (SP) - O carnaval do Rio de Janeiro é um carnaval baseado em Tia Ciata, Donga, João da Baiana. É um carnaval mais malandro, mais cadenciado. Tem um fundamento no samba de roda baiano. Ele se uniu com o jongo, aquela coisa do Rio de Janeiro, de praia, aquele jeito carioca de ser. Agora, o carnaval de São Paulo se fundamenta no interior, no cinturão formado no ciclo do café. Tanto que o samba de São Paulo vem do interior para dentro da capital. Ele nasceu em Pirapora, Tietê, Piracicaba, veio desses lugares. Esses lugares são baseados em Festa de Reis, é uma coisa totalmente diferente, que a gente chama de samba rural.
Apesar das diferenças, Rio e São Paulo caminham juntos quando o assunto é carnaval.
Milton Cunha - Acho louvável um estado da federação como São Paulo, reconhecido por seu poder econômico, por homens engravatados e por mulheres de tailleur que caem no samba. Eles provam que riqueza intelectual, desenvolvimento econômico podem rimar com ginga, com samba no pé. O carnaval do Rio, de São Paulo, de Salvador mostram a beleza do seu povo.