06/04/2005
Martinho mostra que é da Vila
São Paulo, 4 de abril - Assim como fez nos recentes CDs "Lusofonia" (2000) e "Conexões" (2003), Martinho da Vila volta em seu novo CD a travar contato com sons e artistas de outros países latinos. É uma busca ideológica, ele prega a união entre esses povos e culturas, e comercial, já que abre portas internacionais à sua carreira.
Mas não se engane: "Brasilatinidade" prova que o melhor Martinho é mesmo o da Vila. Postas na balança, as dez faixas "cariocas" ganham em qualidade e vigor das cinco "latinas", ainda que haja aproximação entre os dois lados.
Sambista que sempre teve um verniz político -vide "Rosa do Povo" (1976)-, Martinho abre o disco com um excelente samba utópico: "Quando Essa Onda Passar" sonha com os morros do Rio como zonas de paz e música.
No mesmo tom, ele diz em "Quem Tá com Deus Não Tem Medo": "Vamos viver! Sem medo!", terminando com um discurso a boa canção de levada africana, em que ironiza a paranóia gerada pela violência urbana.
Alegria, Rio e samba também são os ingredientes de "Sob a Luz do Candeeiro", "Roda de Samba no Céu" e "Feitiço da Vila" -o clássico de Noel Rosa foi gravado para a novela "América", da Globo, e une outra vez os dois maiores nomes do bairro.
"Tempero do Prazer", "Fetiche", "Suco de Maracujá" (parceria com João Donato) e "Eu Não me Canso de Dizer" se encaixam na tradição maliciosa de Martinho, com odes à beleza feminina. E "Mirra, Ouro, Incenso" é uma inspirada parceria romântica com Hermínio Bello de Carvalho.
Das "latinas", destacam-se "Um Beijo, Adeus" -versão de Martinho para música do italiano Lucio Dalla, gravada com Mafalda Minnozzi- e "Dentre Centenas de Mastros", baseada num poema do romeno Mihai Eminescu, cujo nome não está no encarte.
A ótima portuguesa Kátia Guerreiro não parece à vontade em "Dar e Receber". A francesa Nana Mouskouri também se arrisca no português em "Um Dia Tu Verás", e a espanhola Rosário Flores faz o dueto em "Uma Casa nos Ares". Momentos cosmopolitas de um Martinho sempre da Vila.