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12/07/2006

Sargento troca as cordas pelo pincel

São Paulo, 10 de julho - À beira de completar 82 anos, Nelson Sargento tem tirado da pintura seu sustento e, após doloroso período de recuperação de uma grave doença, que guardou em total segredo, vive situação financeira delicada que resume o momento atual de grande parte dos sambistas de sua geração. "A maré não está para peixe, ninguém paga cachê para artista de samba no Rio. Em nosso time, estamos todos com dificuldades de fazer shows", diz Nelson, que no horizonte só tem agendada a festa de seu aniversário, dia 24, quando cantará no Centro Cultural Carioca convidando amigos como Aldir Blanc, Luiz Carlos da Vila e Délcio Carvalho. Amparado pela mulher e produtora Evonete Belisário, Nelson anda atrás de amigos para divulgar e vender seus quadros. Já fechou pacotes de vendas negociando a cerca de R$ 700 cada tela. Ao contrário de seus reconhecidamente belos sambas, tem conseguido valorizar suas telas e, assim como na música, encontrado maior mercado fora do Rio. Artista múltiplo, Nelson nunca parou de compor e pintar, mesmo durante o tratamento para se curar de um câncer de próstata que o atingiu há dois anos. Sem plano de saúde, o compositor contou com ajuda financeira e até médica de amigos, como Drauzio Varella, contraiu dívidas e curou-se pouco antes de fazer 80 anos. "Todos amam os sambas do Nelson e o colocam no pedestal, mas na hora de contratar só aparece `0800', gente o chamando para cantar de graça", diz Evonete. Cachê melhor em São Paulo - Assim como fez o parceiro Jamelão, que praticamente mudou-se para São Paulo, onde recebe três vezes o cachê de cerca de R$ 1.500 que lhe ofereciam no Rio, Nelson planeja o salto rumo à capital paulista mas não consegue deixar a cidade que lhe rende tanta inspiração. Autor de cinco sambas-enredo da Mangueira, onde morou por 42 anos, e clássicos como Agoniza Mas Não Morre' e `Encanto da Paisagem', o compositor já foi também ator em 14 filmes, como `O Primeiro Dia', de Walter Salles, e `Orfeu', de Cacá Diegues. Recentemente, foi tema do documentário `Nelson Sargento', de Estevão Ciavatta. Ano passado, lançou o livro de frases `Pensamentos'. Entre elas: `Ter jogo de cintura é livrar-se com inteligência de alguma coisa que incomoda'.