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São Paulo, 12 de Dezembro de 2010 - Publicamos abaixo a crítica do CD gravado por Tania Malheiros e que será lançado sexta-feira, dia 17 de dezembro, na Sala Baden Powell. A crítica é assinada pelo jornalista Romildo Guerrante. Leia:
Tania Malheiros
Primeiro disco é um repositório de sentimentos
Tania Malheiros, uma jornalista que acreditou em suas possibilidades vocais e no seu conhecimento da música popular brasileira, especialmente do samba, para mudar de vida – e quem sabe de carreira –, chega com muita firmeza ao mundo da perenização discográfica de seus sucessos. Seu primeiro CD, “Deixa eu me benzer”, que pode surpreender quem está habituado a vê-la contagiando nos palcos da Lapa com um samba mais acelerado que pedem as noites agitadas, traz uma cadência diferente e muito emocionada do seu sentimento musical. Ela está muito mais reflexiva nas faixas que escolheu para o disco de estréia.
O samba que Tania canta tem poesia. Poesia de Noca da Portela, Paulo Cesar Pinheiro, Marceu Vieira; tem a jóia musical “Vagabundo”, de Carlos Gomes e do marido Anselmo, que perdeu há cerca de três anos. Perda dolorosa que talvez a tenha levado a uma busca interior ainda mais intensa.
Gilson Peranzzetta, que a Tania veio a conhecer recentemente numa dessas casualidades milagrosas, fez a maioria dos os arranjos e algumas intervenções ao piano. Tudo no calibre com que ele está acostumado a trabalhar não é de hoje.
Sugiro que esse disco seja ouvido com muita atenção e que depois de ouvi-lo você não saia correndo pra fila de banco ou qualquer tarefa urgente. Esse disco vai derrubar você na meditação da filosofia de amores e desenganos em que sempre viveu o grande samba dos subúrbios do Rio, da Serrinha, de Osvaldo Cruz, de Vila Isabel. Das rodas de samba que amanheciam nos quintais. Tania sabe disso tudo, porque viveu isso acompanhando o pai, o cavaquinista Múcio de Sá Malheiros, nas intermináveis rodadas de choro e samba.
Tania sabe tudo do samba carioca. Não porque leu, mas porque vivenciou sua história e conheceu seu passado. Um passado muito rico, envolto no lirismo de Cartola, Elton Medeiros, Candeia, Paulo da Portela e tantos outros nomes que fizeram do samba um monumento de beleza e de emoção indescritíveis. Tania, assim como Diogo Nogueira, Paulinho da Viola, Teresa Cristina e muitos outros grandes intérpretes de hoje, bebeu na melhor fonte possível para aprender o que sabe que foi a ambiência doméstica carregada de melodia.
Este disco é extremamente pessoal. Cuidado ao manuseá-lo. É delicado. Exige carinho. Mas vale a pena ficar atento ao que rola em suas 14 faixas, pois elas vão mexer com você.
Romildo Guerrante, jornalista.